6/29/2011

Cabral e os Bombeiros

Pesquisa recente verificou que a instituição com maior índice de confiabilidade no Brasil e no mundo é o Corpo de Bombeiros. E estão em último colocado, com o pior índice de confiança da população, adivinhem só: os políticos.
Na recente tragédia na região serrana do Rio de Janeiro, os bombeiros estavam lá, arriscando a vida e muitos mesmo morrendo, no resgate às vítimas das enchentes e desabamentos. E onde estava o governador Sérgio Cabral? De férias na Europa.
Enquanto os bombeiros estão sempre junto à população, socorrendo quando preciso, e com um salário líquido de R$ 950,00, onde está Sérgio Cabral? Viajando para Porto Seguro, no jatinho do amigo de infância Eike Batista, para a festinha de outro amigo de infância, Fernando Cavendish (Cabral pode ter os amigos que quiser, e o fato da Delta conseguir contratos com o Estado sem licitação não tem nada a ver com isso...). E quem foi fazer o resgate no mar após o acidente de helicóptero? Sim, sempre eles: o Corpo de Bombeiros.
Então, na queda de braço entre os manifestantes do Corpo de Bombeiros e o governador Sergio Cabral, do lado de quem vocês acham que a população iria ficar? Com a imagem desgastada, Cabral hasteou a bandeira branca hoje e fez um “mea culpa” no caso dos bombeiros. Mas isso não tem nada a ver com reflexão e consciência, e sim com pressão e estratégia política. Cabral agora quer parecer “bonzinho”, reconhecendo sua culpa. Mas não basta. O governador deveria aproveitar e reconhecer sua culpa na relação imoral com donos de empreiteiras.
Afinal, para Sérgio Cabral os bombeiros são “vândalos”, os médicos são “vagabundos” e “safados”. E o que dizer de um governador que nitidamente recebe favores em troca de contratos públicos sem licitação? Corrupção passiva sim (Cabral parece gostar de ser o passivo). E quem deveria ser preso não seriam os nossos heróis bombeiros, mas sim o governador canalha e ladrão.

12/07/2010

Direitos Humanos e Homofobia

Antes de começar esse texto, quero deixar uma coisa bem clara: os homossexuais têm seus direitos, e devem lutar por eles. Mas quais são os direitos dos homossexuais? Há uma celeuma em torno da PL 122/2006, fomentada principalmente por líderes religiosos preocupados com seu direito ao livre pensamento. Já eu prefiro uma reflexão diferente: há necessidade de uma lei específica para os direitos dos homossexuais?

Recentemente vimos fatos lamentáveis de crimes de agressão motivados pela homofobia. Um rapaz foi agredido com uma lâmpada fluorescente. Qualquer cidadão justo e coerente deve concordar que esse crime deve ser punido. Mas qual crime? A homofobia? Ora, o crime em questão é de agressão. Esse crime já existe e tem punição prevista por lei. O que importa se a motivação foi o preconceito quanto à orientação sexual da vítima? Não importa o suposto motivo, o caso é de agressão por motivo fútil e deve ser punido da forma já prevista na lei. Poderia ser uma agressão com diversos “motivos”, pelo fato da vítima ser negra, moradora de rua, prostituta, ou simplesmente por torcer por determinado time de futebol. Não importa. O agressor cometeu um crime, e sua punição deve ser dada de acordo com a natureza desse crime e não de acordo com a vítima desse crime.

Uma agressão contra um homossexual é uma agressão contra um ser humano. Uma agressão contra um ser humano é uma agressão contra toda a humanidade. Mas uma agressão contra um homossexual não é, de forma alguma, pior do que uma agressão a qualquer outro ser humano. Os homossexuais devem lutar pelo direito de se expressar livremente, de amar a quem quiserem e quando quiserem, de casar, de criar filhos, o direito de ir e vir, de escolher, de serem parte da sociedade e exercer plenamente sua cidadania. Os mesmos direitos _e deveres_ de todos os cidadãos.

Os homossexuais não são uma espécie diversa da espécie humana, logo seus direitos são os direitos humanos. Não há necessidade de uma lei nos moldes da PL 122/2006. Temos apenas de garantir o respeito e a integridade de cada indivíduo, independente de sexo, etnia, credo ou orientação sexual. A lei tem que valer para todos, e isso basta para construir uma sociedade justa e igualitária.

10/10/2010

Discussão do Aborto (Só nas Eleições!)

A discussão política no Brasil realmente anda em círculos. Volta e meia em período eleitoral a discussão recai sobre o aborto. Agora o tema tabu voltou à mídia, no embate Dilma X Serra. É uma pena que o debate sobre aborto só apareça nessas circunstâncias, como fator político capaz de trazer votos dos indecisos para um ou outro lado, e passadas as eleições caia novamente no esquecimento. Esse assunto me interessa, já postei nesse blog há algum tempo falando sobre o tema. O melhor seria uma discussão franca, fora do período em que os políticos andam “pisando em ovos”, e tratado com seriedade.

No Brasil o aborto é permitido apenas em dois casos: em caso concepção como resultado de estupro e em caso gravidez com perigo de vida à mãe. E a lei brasileira está de acordo com as regras do CFM (Conselho Federal de Medicina). Infelizmente o CFM nunca é chamado ao debate sobre o aborto, afinal temos um conselho de ética médica que poderia ajudar bastante na discussão do tema. Mas nesse blog não falo apenas como médico, mas principalmente como cidadão.

Acredito que deveria ser revista a lei do aborto. Casos de inviabilidade fetal e malformações são permitidos ao aborto em alguns países da Europa, mas por aqui é considerado “aborto eugênico”. E ao falar em eugenia, remetemos ao nazismo e a discussão fica prejudicada. Mas não se trata de aborto para fins de “melhoria genética”, ou seja, para priorizar uma ou outra etnia e selecionar características como altura e cor dos olhos. Trata-se de se repensar na atitude frente a fetos anencéfalos, inviáveis para vida extra-uterina, e em casos de graves más-formações que tornariam as vidas dessas possíveis futuras crianças um sofrimento com o inevitável desfecho fatal precoce. Devemos discutir esses casos sem preconceitos e de forma séria, trazendo a parte ética e científica à tona, e parando de tratar o assunto como uma questão religiosa.

Agora, a legalização irrestrita do aborto me parece uma total irresponsabilidade. Aborto não pode ser um método de controle de natalidade, não pode substituir o planejamento familiar, não deve ser um passe livre para o sexo sem proteção. Faltam ainda campanhas de planejamento familiar e combate à gravidez na infância e adolescência, de preferência associadas às campanhas contra as DST e AIDS. É muito mais fácil e digno ao ser humano o uso de preservativos. É mais barato ao SUS a distribuição ampla de preservativos do que o tratamento de DST’s e AIDS. A saúde da mulher começa na conscientização da necessidade de uso de preservativos para prevenção de DST’s e gravidez indesejada.

O jornal “O Globo” de hoje envereda por um caminho perigoso: a descriminalização do aborto levando em conta o número de mortes pelo aborto ilegal. É um argumento inválido, pois desconsidera completamente a necessidade de combate ao comércio ilegal de substâncias abortivas e às clinicas clandestinas de aborto. É hipocrisia falar que a descriminalização do aborto e a subseqüente oferta de abortos legais pelo SUS favoreceriam ao pobre. O argumento de que os ricos pagam e fazem um aborto “seguro” e o pobre faz em condições precárias também é inválido. Só quem nunca precisou do SUS pode acreditar nisso. Uma simples marcação de consulta com cardiologista pode levar de 3 meses a 1 ano, o SUS está sobrecarregado, liberar o aborto para ser realizado no SUS o sobrecarregaria ainda mais e imagina ter de esperar meses para um aborto... é inviável. A liberação favoreceria mais aos ricos, que poderiam agendar seu aborto em um hospital particular com excelência médica, enquanto o pobre continuaria fazendo aborto em clínicas de higiene precária pela dificuldade de atendimento no SUS. Além disso, volto a destacar o gasto de aborto no SUS custaria mais à União do que as medidas simples de prevenção e distribuição gratuita de preservativos, somadas às campanhas públicas contra gravidez indesejada e DST’s e Aids. Além disso, o aborto não é um ato isento de riscos à saúde da mulher, há risco, como qualquer procedimento invasivo. Risco de mortalidade e morbidade.

A questão do aborto deve ser discutida com seriedade sim. E de preferência em um momento político favorável a essa discussão, fora dessa época de caça aos votos. E sendo considerado um problema de saúde pública, discutido no âmbito da ética e da ciência, e não no campo da religião. Mesmo porque religião é dogmática, não aceita discussão. E o Brasil, como país laico que é, não pode submeter suas leis e suas políticas de saúde pública ao controle de nenhuma religião. Que venha então esse debate. Mas aposto que passado o 31 de outubro, a questão do aborto cairá novamente no esquecimento da mídia e da opinião pública. É viver para ver.

9/05/2010

A Temporada dos Filhos-da-puta Sorridentes

Carros de som com músicas ridículas berram nas ruas. Bandeiras se agitam, qual em torcidas de futebol. Panfletos são distribuídos exaustivamente nas ruas. Parece carnaval, “essa ofegante epidemia”. Mas é só a campanha eleitoral. Milhares de cartazes, outdoors e “santinhos” poluem as cidades, e todos me parecem iguais: uma sigla, um número, uma frase idiota e um rosto, sempre sorridente. Está aberta a temporada dos filhos-da-puta sorridentes.

Sempre os mesmos cartazes, os rostos podem ser diferentes, mas no fundo parecem ser de uma única pessoa. Sempre sorrindo, parecendo muito satisfeitos com o que estão vendo. E fazendo uma grande festa, com sua música de campanha, bandeiras, e o séqüito de infelizes homens-sanduíches, que sempre parecem cansados ou envergonhados, ao contrário das fotos sorridentes. Parece que o circo chegou, mas se são eles que estão rindo, é porque os palhaços somos nós. Os palhaços somos nós.

O sorriso do candidato parece zombar do povo, que não importa o que faça vai acabar tendo que escolher um deles. O sorriso é um escárnio, pois você será obrigado a ir às urnas escolher o menos pior. Que uma vez eleito, se tornará muito, mas muito pior. Eles têm o rosto despreocupado e feliz, satisfeitos consigo mesmo, já antevendo a oportunidade de administrar o dinheiro público - e de preferência em benefício próprio. Uma coisa todos têm em comum: estão sempre rindo. Até naqueles que parecem mais sérios, dá para perceber lá no fundo um sorriso sardônico. Talvez esses sejam os piores.

Eu poderia até votar em alguém apenas por aparecer sério na foto da campanha. Mas não apenas sério; não, o meu candidato deveria ter os olhos tristes, tristes por causa dos mortos em deslizamentos de terra, tristes com a violência doméstica contra tantas crianças e mulheres. Sua fronte deveria estar enrugada, preocupado com a saúde pública no Brasil, de profissionais sobrecarregados e mal-remunerados, e sem condições e material para trabalhar. Preocupado com o ensino público, com as crianças que seriam nosso futuro crescendo sem o estudo que as capacitaria a tornarem esse país melhor, seus potenciais desperdiçados para sempre. E a boca do candidato não deveria ostentar sorrisos fúteis, mas sim trazer os dentes cerrados e os lábios comprimidos, com verdadeira ira contra a corrupção generalizada, a desmoralização das instituições, a total falta de moral e ética dos homens públicos que aí estão.

Mas o que eu vejo são só sorrisos, dos deputados que tentam continuar, voltar ou chegar ao poder, do governador que tenta se reeleger, do presidente que tenta eleger sua sucessora, felizes com o Brasil perfeito que eles criaram. Mas criaram esse Brasil perfeito só para eles, que viajam e comem e consomem o dinheiro dos nossos impostos, nós que trabalhamos para sustentá-los e não temos nada em troca, e assistimos esse carnaval político sem dizer nada. E o povo segue feliz, aproveitando o carnaval para pedir favores políticos, aproveitando as obras de curta duração e os subempregos temporários de homens-sanduíche e porta-estandartes, contentes com a sua última compra a prazo com juros altíssimos no carnê das Casas Bahia.

Fico profundamente triste com tudo isso. Mas eles, eles não. Para eles a vida é essa festa, esse gasto desenfreado com material de campanha que polui o ambiente, estraga a paisagem, fere os ouvidos e entope os bueiros. O dinheiro empregado em campanha dará fartos lucros, assim que chegarem ao poder e colocarem suas mãos sujas no erário público, com negociações escusas e “tenebrosas transações”. Realmente, eles têm razões para rir. Eu não.

Está aberta a Temporada dos Filhos-da-puta Sorridentes.

8/14/2010

Vidas Breves

O que vai construir a história da vida?
As pequenas tragédias, as perdas e danos,
As escolhas erradas, memórias feridas,
Todos planos falidos e os nossos enganos?

Tem o alívio fugaz de um amor sem medida,
Temos poucas tolices que um dia sonhamos,
Temos glórias fugazes na guerra perdida.
Mas me diga o que marca a passagem dos anos?

Talvez traumas secretos num mundo de dor
Remoendo o passado com raiva e rancor...
Ou momentos felizes de um tempo perdido,
Como fotos que aos poucos desbotam a cor.

É a mistura confusa de tudo, acredito,
Assim são nossas vidas, breves, sem sentido...

2 de Novembro de 2007