10/25/2007

Legalização do Aborto

A discussão política no Brasil anda em círculos. Recentemente, nosso governador, Sérgio Cabral, se declarou a favor do aborto. O debate sobre aborto me interessa. Afinal, minha candidata (Jandira Feghali) ao senado perdeu as eleições passadas, sendo líder nas pesquisas, justamente após se declarar a favor do aborto. Fizesse como Aécio e não emitisse opinião publicamente, teria se saído melhor. Mas não seria honesto. É que em política, a honestidade não compensa.

Há a questão da responsabilidade individual. Cada cidadão tem que ter responsabilidade sobre os seus atos. Afinal, o anticoncepcional oral (ACO), que contribuiu para a revolução sexual nos anos sessentas, e os preservativos já são de conhecimento geral. O governo federal distribui preservativos no SUS. Então, se a mulher engravida é porque quer. Certo ou errado?

O que eu vejo, na maioria dos casos, é que a ignorância ainda é a maior causa de gravidez indesejada, somada à imprudência e inconseqüência. As mulheres ainda acreditam em tabelinha e coito interrompido, o famoso "eu tiro antes". Além de serem métodos com alto índice de falha, dependem da compreensão (e controle) do companheiro. A imprudência se dá pelo pensamento absurdo de que não vai acontecer com ela. E a inconseqüência ocorre mais em adolescentes, que querem a gravidez, mas quando ocorre percebe que na verdade não está preparada para as mudanças que isso vai acarretar em sua vida, a incompreensão dos pais, o namorado que se esquiva das responsabilidades.

Mas permitir o aborto para os casos de gravidez indesejada é simplesmente a solução "fácil". A prevenção e orientação não podem ser substituídas pela interrupção da gravidez. Primeiro, porque não é um ato isento de riscos à saúde da mulher. Há risco, como qualquer procedimento invasivo: risco de vida, risco ao futuro reprodutivo. Em segundo lugar porque há um custo, e legalizando-se o aborto, obriga-se o SUS a realizá-lo. E, sinceramente, há casos mais importantes a se tratar. A AIDS, por exemplo. E, engraçado, as campanhas de prevenção à gravidez indesejada também servem para a prevenção das DST/AIDS.

No Brasil o aborto é permitido, em dois casos. Em caso de gestação fruto de união carnal forçada (estupro) e em caso de risco à vida materna. O caso do feto anencéfalo é complicado, visto que não há chance de sobrevida extra-uterina a longo prazo (geralmente vive poucas horas fora do ventre materno). Alguns médicos interpretam que levar a termo uma gestação de nove meses com o inevitável fim na morte do concepto um trauma psíquico que seria um prejuízo à saúde da mãe. Mas o trauma psicológico não implica em risco à vida, e o aborto é proibido nesse caso. A menos que se crie uma legislação específica para garantir a impunibilidade do aborto em caso de anencefalia.

Assim, acredito que a legalização do aborto só traria prejuízo a todos, principalmente à mulher. O que temos de fazer é aumentar as campanhas de planejamento familiar e combate à gravidez na infância e adolescência. Compete, então, ao Ministério da Saúde elaborar campanhas de prevenção que atinjam a população alvo, ou seja, as mulheres, principalmente as adolescentes. Uma boa iniciativa é o site “A Gente se Cuida”. Mas fica restrito aos que têm acesso à internet, precisamos de anúncios no rádio, televisão, revistas femininas... Botem o Duda Mendonça (se não me engano ainda é ele que tem a conta de propaganda do Ministério da Saúde...) para trabalhar um pouco.
Finalizando, o argumento principal do nosso governador é que filhos não desejados acabam alvos fáceis da marginalidade, aumentando o crime na cidade do Rio de Janeiro. Uma generalização tosca, para dizer o mínimo, sobre um assunto tão importante. Transferir para a Saúde um problema obviamente da Justiça e Segurança Pública. Ora, me bastaria que se pusesse em prática a lei. Se os bandidos fossem presos, e mais, se permanecessem presos (e sem celular), as crianças não se tornariam alvos da criminalidade

4 comentários:

shirlei horta disse...

Acho que fazem propositadamente muita confusão a respeito do assunto. A desinformação é tanta, que fica constrangedor ser a favor da legalização do aborto.

Confunde-se, de saída, aborto com anticoncepção. Nada a ver. Aliás, uma visão altamente machista, como se se submeter a um aborto fosse uma festa, uma balada, uma ida à manicure.

Ninguém, em são consciência, é "a favor do aborto" como evento desejável, mais um método contraceptivo. Mas é preciso que as mulheres tenham o direito de decidir se devem ou não levar uma gravidez a termo.

Os índices de crescimento de famílias chefiadas por mulheres (e que sustentam casa e filhos sozinhas) são crescentes. É a mulher que tem que passar longos nove meses esperando para enterrar o próprio filho: o parto significa vida e morte. As decisões judiciais são demoradas, tornando quase impossível o aborto pelo SUS nos casos de estupro.

Não tem nada a ver com eugenia, não tem nada a ver com religião (que é opção personalíssima). Deveria ser discutido longe do fanatismo, levando em consideração o livre arbítrio sobre o próprio corpo (entre outros aspectos).

Enfim, não é o que temos e não tenho esperança de ver esse assunto discutido apropriadamente tão cedo.

Fabrício Quintanilha disse...

Shirlei,

Quando dei o enfoque de que aborto não deve ser usado como meio de anticoncepção, é porque não tenho dúvidas de que, com nossa realidade, é isso o que vai ocorrer.
Não sei se concordas comigo, mas nos dias de hoje, a mulher bem informada só engravida se quiser. E escolher engravidar ou não, isso sim é dispor do próprio corpo. Evitar a gravidez é, e sempre será, melhor que interrompê-la.
E isso vale, inclusive, para os casos de estupro. Se a mulher vencer a vergonha inicial (injustificada, é claro) e procurar um hospital, além dó exame médico-legal, é feita profilaxia de DSTs e gravidez, com a pílula do dia seguinte. O estupro tem que ter sido registrado em B.O. para fazer juz ao pedido de interrupção da gravidez, e para tal deve haver exame pericial. Logo, os casos de interrupção de gravidez por estupro se restringem àqueles casos em que a mulher demorou a registrar queixa, passando das 48 horas nas quais ainda é efetivo o uso da anticoncepção de emergência.

Um abraço!

Sonnigstag disse...

Brício, vc continua brilhante!
Sua capacidade de discernimento e sagacidade, tanto moral quanto social jamais deixam de me encantar, ainda que, em vários momentos, possamos ter opiniões diferentes sobre os mais diversos assuntos.
Saudade
Vivi

shirlei horta disse...

Sim, engravida quem quer, você tem razão. E é mesmo provável - por mais que isso me espante - que o aborto acabe se tornando método contraceptivo num país miserável e analfabeto como o nosso. É difícil discutir essas coisas aqui no Brasil, um país de tantas diferentes realidades. Algumas difíceis de acreditar.