6/09/2007

A Corrupção e o PT

Vamos ser sinceros e coerentes. A corrupção no Brasil não começou com o governo Lula. Nem vamos ser ingênuos de achar sequer que agora a corrupção está pior do que antes. Ora, o Brasil está ainda se reacostumando à democracia. Se pararmos para pensar, um presidente eleito entregou o cargo a outro presidente eleito em 2002. Antes disso, só o JK para o Jânio, em 1961. Mais de 40 anos! Estamos reaprendendo a democracia, a liberdade de imprensa. Acredito sim, que o governo Lula vem sendo mais investigado que os outros. O problema é a reação a isso.

Não adianta negar os fatos. Houve caixa-dois, houve mensalão, houve tentativa de compra de dossiê. Tudo bem, o PT não é culpado de criar nada disso. Mas é culpado de perpetuar. Tenho certeza, não sejamos ingênuos, de que a GAUTAMA está aí há tempos. Se não esta, outras com o mesmo papel. Desde governos passados, é claro. O governo atual não criou o Lobby das empreiteiras. Mas perpetuou.

Eu não quero saber quem começou com a rixa, quero saber quem vai acabar com ela. Palestinos e Judeus se matam há séculos, com o princípio do "foi ele que começou". Não importa quem começou com a corrupção, importa quem vai acabar com ela.

Não que realmente dê para "acabar" com a corrupção. Os seres humanos erram, e sempre vão errar. Mas a certeza da impunidade facilita o erro. A tentação de meter a mão no dinheiro público deve ser menor que o medo de ser apanhado e sofrer as conseqüências. Não é isso que ocorre. Continuamos com a prática do "todo mundo faz". "Todo mundo" joga lixo na rua, vou jogar também. "Todo mundo" dá propina para o PM nas blitzen, vou dar também. "Todo mundo" rouba os cofres públicos, vou roubar também. E onde fica o partido que "não rouba nem deixa roubar"? Entrou na dança também.

Apesar de eu defender o plano Real como uma das melhores coisas para a economia do meu país, pelo ganho de uma moeda estável, pelo fim da hiperinflação, não sou ingênuo. Minha defesa é por lembrar da época do Sarney, corta zero, congela os preços, lança nota novinha em folha com um valor alto e, poucos meses depois, eu levava essa mesma nota para a padaria para comprar um punhado de balas. E quem mais perdia era o pobre, para a classe média alta sempre havia a opção de comprar dólares, investir na bolsa, overnight, et caetera. Quem discorda do bem que foi o plano Real, no mínimo está cometendo uma desonestidade intelectual. Mas não sou ingênuo. As denúncias do Nassif fazem sentido, uma equipe econômica que não permitisse qualquer vazamento é missão quase impossível. Não duvido que alguns tenham lucrado em cima do plano Real. Mas porque o silêncio agora? Qual a repercussão da denúncia? Nenhuma. E não me venham culpar a mídia. O PT já estaria com a boca no trombone, se isso interessasse politicamente. Mas isso não é o que ocorre, o inimigo está morto, o teto é de vidro e não fica bem atirar a primeira pedra. Vai que o inimigo acorda.

Mas estamos aos poucos evoluindo. A corrupção está vindo à tona. Só falta agora aprender a punir. E o que mais me entristece, é que esta era a oportunidade do PT de se mostrar o que se propunha: ser diferente dos outros partidos. Tudo bem, a corrupção aconteceu, mas agora vamos punir. Qual o quê!... A chance histórica, de fazer algo nunca antes feito na história desse país, uma verdadeira operação "mãos-limpas", se perdeu.

Tudo bem que o Jefferson de Buscetta só tinha a cara, mas era uma grande chance de se reescrever a história desse país. E se reclamam aqui do excesso de mandados de prisão, na Itália foram quase 3000. Mas a apuração dos fatos foi muito além do que ocorre no Brasil de hoje.

Independente de afiliação política, o mais importante é a apuração dos fatos, sem bravatas, sem acharques aos acusados, sem exploração descabida da imprensa. E, encontradas as provas, a punição dos culpados. E, se não for sonhar demais, a apreensão dos bens para repor o que foi desviado. Com seriedade e respeito. Que pode ser traduzido como "vergonha na cara."

E é isso o que nos falta: vergonha na cara.

Nenhum comentário: