11/20/2007

Pelo menos no Brasil Zumbi é melhor que no Haiti...

É certo que brasileiro adora um feriado. Mas esse “Dia da Consciência Negra” é horrível. Uma compensação à injustiça histórica cometida contra os africanos escravizados? Tudo bem. Um combate ao preconceito racial? Louvável. Uma grande homenagem à cultura negra, que nos trouxe uma contribuição cultural (samba!), gastronômica (feijoada!), esportiva (capoeira!), et caetera, é perfeito e bem vindo. Agora, mais um feriado, a gente não precisa disso não.

Além disso, acredito que o maior preconceito no Brasil não é mais racial que social. Afinal, um negro de classe rica é bem visto, um favelado branco de olhos azuis vai ser descriminado tanto quanto um negro. E quanto às piadas, somos democráticos. Temos piadas com negros, judeus, turcos, louras, portugueses, argentinos, papagaios, homossexuais, gaúchos, gaúchos homossexuais, médicos, advogados e presidentes da república. Até com nossos ídolos (Senna, Xuxa, Ronaldinho...). É da vocação do brasileiro ser gozador. Mas não nego a persistência do ódio racial, copiado de nossos avôs e bisavôs, inclusive em termos como “serviço de preto”, horroroso isso, não? Mas não vamos chegar ao cúmulo norte-americano de implicar com termos hoje inocentes, como “mulato” (que, segundo alguns, vem de “mula”). Abaixo o politicamente correto, e vivam as mulatas!

O meu desgosto com o feriado é o prejuízo à nação de mais um dia ao ano parado, com perdas na produção e comércio. Além disso, um dia da “Consciência Negra” só reafirma o negro como minoria. Ou maioria desfavorecida, que seria o termo mais adequado. E que consciência? O que é debatido pela sociedade, o que isso acrescenta à nossa cultura? Onde está o resgate do valor do negro, e da memória histórica do país? Cadê o Eduardo Bueno para mostrar a importância de Zumbi para a resistência negra à escravidão? Alguém sabe onde fica o Quilombo dos Palmares?

Sem o resgate histórico, fica o feriado para ir à praia ou vadiar no shopping, e esse enigmático “Dia do Zumbi”, que parece nome de filme do George Romero. Aos negros (não me venham com essa de afro-descendentes, que é ridículo) resta um dia vazio de significado, sem relevância política, e que em nada acrescenta para a “valorização da raça”. Pois enquanto houver essa distinção de “raça”, em nada avançamos em direção à igualdade. No “Dia do Índio” pelo menos as crianças se divertem nas escolas, enquanto os brasileiros nativos permanecem à margem, bem guardados e salvaguardados da sociedade lá pro alto Xingu e reservas semelhantes, com um ocasional Sting para abraçar. Sinceramente? O “Dia do Orgulho Gay” é mais divertido. E mais relevante. Afinal, eles fazem mais barulho.

7 comentários:

shirlei horta disse...

Concordo em gênero, número e grau. Levei um susto quando soube do feriado, que se casou com outro feriado e parou a atividade econômica por seis dias. Aliás, cheguei a sugerir o dia da consciência loura, mas não fez muito sucesso.... Poderia ser em 29 de fevereiro, assim não atrapalhava tanto! Grande beijo,

Anônimo disse...

Nunca me senti confortável para falar de situações que desconheço de fato. Falar sobre preconceito racial, questão de raça, cor e tal, para mim que nasci branca e em berço quase de ouro soa um tanto hipócrita. De mais a mais, se a data provoca tanto, é por que há nela algo para ser pensado.

Fabrício Quintanilha disse...

Natália,

Você não precisa ser negra para saber sobre o preconceito racial, embora eu concorde que nós nunca teremos o conhecimento através da experiência própria que com certeza seria mais exato.

O problema é justamente que a data não provoca nada. Nem uma manifestação, pouco alarde, nenhum passo em direção à igualdade entre os seres humanos _ enquanto se falar de "raça" haverá preconceito... não somos poodles e collies (embora alguns gostem de ser chamados de "pit bulls"). Não sou contra a data, sou contra o feriado. E gostaria de ver algo de concreto na comemoração desse dia, e não apenas uma oportunidade de ir à praia.

Um abraço!

Anônimo disse...

Sabe Fabricio... entendi o seu ponto desde o começo, mas continuo acreditando que não é verdade que possamos falar com propriedade sobre certos assuntos sem ter vivido na carne a experiência. Por exemplo, dar pitaco em educação de filhos dos outros é fácil, mas acertar a mão na educação dos nossos é mais difícil. E sim, esse feriado, tanto quanto a questão das cotas e tal, impacta mais do que pode imaginar nossa vã hipocrisia branca. Não é um assunto fácil, reconheço, mas reitero que enquanto branca, bem nascida, educada em colégio particular e claro, bem empregada, jamais terei a dimensão do que é acordar negra, comum, morando na periferia, pegando busão para ir trabalhar na casa da patroa nos Jardins. E sim, o ser humano é racista e esse discurso de que não há "raças", que grande balela isso.
Somos uma gigantesca uma matilha de poodles, pit-bulls e vira-latas caminhando pelas ruas o tempo todo.
E que sorte a minha que nasci poodle, não é!

Anônimo disse...

desculpa, já ia me esquecendo: um grande abraço pra vc tb!

;)

shirlei horta disse...

Festas chegando... festas? Hummm.

Anônimo disse...

Bom, então aproveite as festas! E volte renovado. Beijos,