3/19/2008

Apologia da Burguesia

Todo militante da esquerda, como bom estereótipo, usa barba e camisa vermelha. Era assim o Fabrício, meu xará e personagem de Murilo Benício em uma dessas novelas da Globo. Além disso, têm seus bordões. Os principais são falar mal da “burguesia”. A burguesia é vista como a fonte de todos os males, exploradora e cruel. Como dizia a música do Cazuza (também um burguês), “a burguesia fede”.

Mas o que é a Burguesia? Historicamente, as Cruzadas serviram para reabrir rotas comerciais entre o ocidente e o oriente. O modelo político econômico feudal presenciou então o renascimento do comércio, e os mercadores começaram a se agrupar em fortalezas, os chamados burgos . Quem vivia nessas cidades rudimentares eram conhecidos como burgueses. A burguesia naquela época foi responsável por uma verdadeira revolução, que modificou a estrutura de poder da sociedade: a transição do feudalismo para o capitalismo.

Talvez seja daí o ódio dos esquerdistas contra a burguesia. Afinal, foi esta responsável pelo surgimento do modelo sócio-econômico capitalista, Nêmesis do comunismo de Marx. A favor do capitalismo, temos que destacar o avanço para a época; de uma estrutura rígida de castas onde a classe dominante, a nobreza e o clero, detinha o poder por direito de nascença, passamos a uma estrutura mais flexível, onde teoricamente temos possibilidade de ascensão social à custa do trabalho e esforço pessoal. Além disso, a busca por capital levou indiscutivelmente aos avanços tecnológicos que culminaram na revolução industrial. Enfim, o progresso. Como qualquer ruptura com modelos antigos, essa nova sociedade carecia de regras, o que levou ao abuso do poder econômico. Esse foi o lado negro do capitalismo, a exploração do trabalho em condições subumanas. Com o tempo surgiriam mecanismos de controle, como as leis trabalhistas.

Tudo bem, eu fiquei divagando sobre história, mas isso foi o passado. E hoje, quem é a burguesia? Não existe uma definição atual para burguesia, que adquiriu um sentido mais amplo do que apenas os comerciantes. Pelo que eu entendi, a burguesia seria o oposto do “povo”, que não teria aqui o sentido de população, mas sim de operários e assalariados, ou seja, a classe de renda mais baixa. Burguesia seriam as classes dominantes, um grupo bem heterogêneo. Teríamos a “elite” como os donos do poder, megaempresários, políticos, grandes proprietários de terra. Mas esses são uma classe a parte, mesmo para a burguesia. Em um sentido mais restrito, burguesia seriam os profissionais liberais, médicos, advogados e dentistas, os pequenos comerciantes, os funcionários com nível superior, engenheiros, arquitetos, jornalistas e professores, os gerentes de bancos e lojas, os microempresários, os funcionários públicos, os oficiais militares e profissionais de informática. Enfim, a classe média.

A burguesia com seu charme discreto equilibra-se na corda bamba, transitando entre dois mundos. Sonha em chegar ao topo (acúmulo de capital), mas vive pendurada para não cair. A burguesia quer ter lazer, educar os filhos e adquirir bens de consumo. Com isso movimenta o comércio, impulsiona a economia do país. Os burgueses trabalham sempre mais e mais para ter dinheiro para sustentar seus caprichos, mas é esse consumismo tão criticado pela “esquerda” que dá emprego em fábricas ao proletariado. A burguesia dá emprego às secretárias e domésticas. A burguesia gera renda, é o trabalhador especializado, mais ativo economicamente. A burguesia paga os impostos com os quais o governo sustenta os projetos sociais, hospitais públicos, escolas públicas, favela-bairro, bolsa família. A burguesia paga a conta de luz, com contribuição para iluminação pública, enquanto as favelas estão acesas no “gato”. A burguesia perde na transação bancária, nos impostos excessivos, na propaganda enganosa, com produtos danificados que não conseguem trocar, no abuso do dia-a-dia. E não se revolta, segue trabalhando com o sonho do acúmulo de capital. Não invade fazendas nem faz baderna no congresso. Os burgueses só queremos viver nossas vidas em paz, viajar nas férias, criar nossos filhos longe da violência. Tem burgueses bons e maus, afinal todas pessoas tem defeitos e qualidades. Alguns têm “consciência social” e tentam ajudar doando dinheiro para os “Criança Esperança” da vida. Essas duvidosas “organizações não-governamentais” que recebem dinheiro do governo para fazer o que o próprio governo deveria fazer diretamente. Mas a maioria gostaria de viver em um ambiente sem desigualdades sociais, só não vão fazer qualquer esforço para isso. Afinal, é função do governo, e nós já fazemos nossa parte, trabalhando e pagando impostos.

Então, não me venham os militantes de esquerda falar da burguesia, somos trabalhadores explorados pelo governo, e geramos trabalho para as classes de menor renda. E não existe “pobrezinho”; cada qual está cuidando de seus interesses. E também não existe essa de ideal comunista, em todos os modelos já tantados o governo continua parasitando a real força de trabalho e renda da burguesia. E, por último, a burguesia não fede. Trabalhamos para pagar nosso perfume francês, pagando 60% do valor como imposto, com o qual é financiado o bolsa-família.

11 comentários:

Anônimo disse...

Essa é uma briga velha, sabia? Já na década de 70, 80, "a gente" se referia à burguesia de maneira sempre depreciativa e com alteridade (não sei se estou empregando essa palavra corretamente). O fato é que burgueses são os outros. Até você chegar nesse questionamento que você sugeriu - o filho estuda em escola privada, tem plano de saúde, o carro tá na garagem. Então, quem são os "outros"? Porque burgueses somos nós. O operariado (e sua tão sonhada emancipação) se reduz dia a dia, em prol de máquinas que não erram, não faltam ao serviço, não tomam cafezinho. Os outros são os "excluídos". E de tanto ver gente roubando em nome dos "outros", criou-se uma mentalidade completamente equivocada a respeito da defesa dos direitos humanos, da promoção da inclusão. Quer saber? Me irritam mais os ignorantes. Os que repetem "mantras" sem saber o que dizem, porque perpetuam a ignorância. Ô paisinho de merda!

kami disse...

É sempre dificil tentar lidar com as diferenças com imparcialidade!
Mais gostei muito do texto, aliais essa foi uma daquelas visitas que valeram a pena, gostei muito do seu blog!

Bjussssssss

Letícia Losekann Coelho disse...

ótimo texto! Tem aquela máxima...esquerdistas usam camiseta do chê, bolsinha de crochê e estrelinha do pt! rsrsrsrsrsrs
beijos

ZEPOVO disse...

Nem todos burgueses são iguais, muito menos todos esquerdistas são iguais.
E veja, muitos são esquerdistas por não concordar com a maneira que o mundo funciona, na direita.
Ou seja, vc acha certo como as coisas estão organizadas no mundo?
O PT é um partido socialista, e assim chamado de esquerda. Primeiro

Paro por aqui, seu texto está ótimo!

ZEPOVO disse...

O COMENTÁRIO ANTERIOR SEGUIU INCOMPLETO


O Pt é um partido socialista, e assim chamado de esquerda.
Primeiro é bom dizer que o socialismo é sempre democrático. A própria palavra remete a democracia.
Segundo, o PT é na verdade de centro, porque não é tão radical como o comunismo revolucionário e nem tão capitalista como a direita eletista.

ZEPOVO disse...

Usei seu texto de gancho lá no meu blog.
Passe lá...

Anônimo disse...

Palmas pra vc,Fabricio.
Muitas palmas!!

abraços!!

kami disse...

Passando pra agradecer o comentário e a visita no meu blog!
Quanto a ele ser pessoal, não importa do que a gente fala, se de politica, de religião....no fundo é sempre sobre a gente!Sobre como essas coisas nos influenciam, ou simplesmente não nos dizem nada! Mais adoei a visita e o comentário, pode deixar que estou procurando me afastar pra encontrar mais que a verdade, quem sabe eu mesma....
Muito bom o seu cantinho!
Bjussssssssssss

Denis Barbosa Cacique disse...

Olá, Fabrício. Como vai?
Revoltado com o que dizem sobre a burguesia? Deixe estar. Todas as classes sociais têm os seus pecados. Isso é fato. Mas não sei ainda se quero por toda a realidade na equação das lutas de classes de que tanto falava Marx e seus infinitos seguidores. Sabe o que faço? Ouço Cazuza só pela poesia. A minha opinião é: é difícil ter uma opinião que não seja tremendamente idiota!
Abraços

Anônimo disse...

Talvez o estereóipo em torno da crítica à 'burguesia' seja amplo demais. Cada um tem um entendimento. O espectro esquerdista talvez use erroneamente essa expressão para criticar aqueles que realmente fedem. Sabemos que não é o funcionário público, o prestador de serviço, o profissional liberal o culpado pela desigualdade. Ele estudou e com esforço alcançou uma posição digna e confortável na pirâmide social. Acredito e concordo que a burguesia que nós esquerdistas criticamos, é aquela classe altamente privilegiada que alcançou um padrão de vida surreal as custas do suor da exploração de peões ou ainda pior, no base do favorecimento dos governantes de plantão. Essa burguesia realmente fede. Aquela que você provavelmente se refere no texto, nada mais são que a força de trabalho, pagadora de impostos, que precisa levar um padrão de vida de classe alta para ter acesso aos serviços que deveriam vir do Estado. Mas essa mesma classe peca ao ser preconceituosa e se alinhar as classes altas na crítica irracional a esquerda, por puro sectarismo movido pela lavagem cerebral de Globos e Vejas da vida. Se ela fosse independente, poderia aglutinar forças e ser a terceira via no Brasil.

Anônimo disse...

bom...será q seríamos amigos hoje em dia? sei nao...
vamos la.
Descobri a Amy Winehouse faz tempo. Hoje em dia a figura dela é ao patética q desvia a minha atençao do q realmente importa q é a musica. Corrigindo; ela FOI excelente cantora. Assista videos ao vivo mais recentes no youtube. Nao consegue nem ficar de pé. Qto mais cantar. A fernanda takai tadinha...chaaaaatinha...E não dá pra livrar a cara da Ivete por causa de uma linda música. Detesto a onipresença dela. Tenho a sensaçao q um dia vou abrir o armario e dar de cara com ela. Nao sendo micareteira e nem lésbica, nao me parece uma boa ideia.
Alguns entendem a Lapa. Outros não. Vc poderia apreciar a diversidade. Poderia observar a convivencia pacifica de hippies, rappers, sambistas, punks, mas só viu os seguidores de moda. Talvez vc tenha ido aos locais errados.
Politica é como religião. É uma questao de fé. Tal qual um crente perante a imagem de Cristo, eu creio no Socialismo. Pode ser ingenuidade. Mas antes isso do que fazer apologia da burguesia.
A proxima vez q me chamarem de negativa ou pessimista passarei os seus contatos. Sou pinto perto de vc.
Adoro filmes antigos. Nisso concordamos. E o vento levou é um dos favoritos. Tb gostei muito de Beleza Americana. Qto aos Zumbis...duvidoso heim...
"A minha pessoa" é uma expressao pseudo erudita? E "caguei baldes" se encaixa em qual categoria?
Estou tentando terminar " A casa dos budas ditosos", mas ta dificil. livro chato do kct. Vai ganhar até um post.Dostoiévski ta na fila.Crime e Castigo.
Quer um prova de q "people change"? Na epoca de escola eu concordava com tudo q vc dizia. ja hoje em dia...tsc tsc...
Nao sou petista nao. Sou pior. Sou Pc do B assumida e feliz. Jandira ja!
Nao se preocupe. Nao sou evangelica. Nao vejo sentido em religioes cristãs.

bjs.
fuy.