Sou um pássaro com asas de chumbo
Não tenho mais a força pra voar
Mas meu coração sonha com o mundo
Batendo quieto no mesmo lugar
Minh'alma escura, qual lago profundo
Esconde em águas turvas de chorar
Segredos e mistérios de um segundo
Que não tive coragem de tentar
Um fósforo riscado será só
Um fósforo usado e nada mais...
Um momento passado será pó
Não voltará a ser nada jamais!
Mas o arrependimento é suplício
Merecido por cada desperdício.
Se todo o universo pode ser uma Casca de Noz Imagine a força de uma Tempestade em um Copo d´Água. ... Um pequeno espaço para que eu possa falar sobre todas as coisas.
5/20/2006
5/15/2006
Sampa e o Poder do Tráfico
São Paulo virou zona de guerra. Considero São Paulo uma cidade desagradável, com trânsito caótico, engarrafamentos colossais durante o dia e “pegas” durante a noite toda, polícia violenta, e um povo antipático. Só passo por São Paulo a caminho de outro lugar qualquer, e sempre me perco (a sinalização é sempre depois da bifurcação...). Não tem praia, o Tietê fede. Não gosto de São Paulo, definitivamente. Mas não posso deixar de escrever ao ver na TV o povo aterrorizado e, pior, a própria polícia aterrorizada. A cidade se tornando uma faixa de Gaza brasileira.
O que está acontecendo em São Paulo é um aviso das proporções que o poder do crime organizado está tomando. Em “Cidade Partida”, Zuenir Ventura mostra parte da gênese desse poder paralelo no Rio de Janeiro. Nada se fez até hoje de concreto para deter o avanço da criminalidade, e cada grande cidade do país, em maior ou menor grau, apresenta essa realidade.
Não me venham dizer agora que a violência é culpa do sistema sócio-econômico, da exclusão de parte da população que, sem oportunidades de trabalho e estudo, ingressa no mundo do crime. Se assim fosse, todo pobre seria criminoso, o que não ocorre. Pelo contrário, a maioria é de trabalhadores, gente humilde e batalhadora. E, por outro lado, o que dizer dos garotos da zona sul que roubam carros das garagens para comprar drogas, ou dos pit boys que aterrorizam com brigas e vandalismo as noites das grandes cidades? Não. O que realmente leva ao avanço da criminalidade é simplesmente a falta de repressão, de punição, de combate ao crime. É a certeza da impunidade, é a corrupção do sistema penal que permite que as celas, no lugar de local de punição, se tornem escritórios do crime.
E a cisão é cada vez maior, uma desconstrução da sociedade constituída, uma subversão da ordem estabelecida (no mau sentido), a destruição dos valores éticos. Torna-se sinal de status ser bandido, carregar uma uzi, matar os desafetos. As meninas (inclusive as de classe média e alta) querem ser namoradas desses anti-heróis. Os meninos querem ser iguais a eles. E o nível de organização atinge a cultura, com seus hinos e brados tribais, na expressão do funk. Não esse funk a que estamos já acostumados a ouvir, mas os “proibidões” que enaltecem o tráfico, que a nossa polícia não consegue impedir de serem veiculados em rádios clandestinas, em bailes da favela e vendidos em Cd´s piratas nos camelôs da cidade.
E a corrupção generalizada faz com que a polícia aceite propinas (“arregos” na gíria própria da marginalidade) e deixe a situação se agravar ao ponto em que chegamos, ao nível de organização de um exército infiltrado entre nossa gente. O que vemos em São Paulo é o sonho de guerrilha da esquerda dos anos 60 e 70, agora realizado não por ideologia, mas como mostra de poder do crime. Estamos virando uma Colômbia, e como resistir?
Não basta a polícia, não basta intervenção Federal, tropa de elite ou exército nas ruas como um estado de sítio. Precisamos de um serviço de inteligência (como o foi o SNI, ou seria não fosse pela corrupção e a natureza de repressão ideológica), para se infiltrar, colher os dados logísticos que permitiriam ações rápidas e precisas antes de ocorrerem os problemas. Desbaratar o crime organizado de dentro para fora, desarticulá-lo, identificar os verdadeiros líderes, menos fáceis de serem substituídos, e decapitar a organização com suas prisões e isolamento. Para tal teríamos que contar também com um sistema penitenciário realmente eficaz, com prisões federais em locais afastados para onde seriam transferidos os condenados de maior periculosidade.
Um dia talvez isso tudo se torne realidade, tolerância zero contra o crime. Mas por enquanto, vamos continuar assistindo o poder público entrando em acordo com os criminosos, tendo a sociedade como refém dessa guerra civil absurda. É o reconhecimento do Estado de que há um outro poder, com o qual temos de conviver e tolerar, dialogar e abaixar a cabeça. E agradecer a Deus por sairmos vivos.
O que está acontecendo em São Paulo é um aviso das proporções que o poder do crime organizado está tomando. Em “Cidade Partida”, Zuenir Ventura mostra parte da gênese desse poder paralelo no Rio de Janeiro. Nada se fez até hoje de concreto para deter o avanço da criminalidade, e cada grande cidade do país, em maior ou menor grau, apresenta essa realidade.
Não me venham dizer agora que a violência é culpa do sistema sócio-econômico, da exclusão de parte da população que, sem oportunidades de trabalho e estudo, ingressa no mundo do crime. Se assim fosse, todo pobre seria criminoso, o que não ocorre. Pelo contrário, a maioria é de trabalhadores, gente humilde e batalhadora. E, por outro lado, o que dizer dos garotos da zona sul que roubam carros das garagens para comprar drogas, ou dos pit boys que aterrorizam com brigas e vandalismo as noites das grandes cidades? Não. O que realmente leva ao avanço da criminalidade é simplesmente a falta de repressão, de punição, de combate ao crime. É a certeza da impunidade, é a corrupção do sistema penal que permite que as celas, no lugar de local de punição, se tornem escritórios do crime.
E a cisão é cada vez maior, uma desconstrução da sociedade constituída, uma subversão da ordem estabelecida (no mau sentido), a destruição dos valores éticos. Torna-se sinal de status ser bandido, carregar uma uzi, matar os desafetos. As meninas (inclusive as de classe média e alta) querem ser namoradas desses anti-heróis. Os meninos querem ser iguais a eles. E o nível de organização atinge a cultura, com seus hinos e brados tribais, na expressão do funk. Não esse funk a que estamos já acostumados a ouvir, mas os “proibidões” que enaltecem o tráfico, que a nossa polícia não consegue impedir de serem veiculados em rádios clandestinas, em bailes da favela e vendidos em Cd´s piratas nos camelôs da cidade.
E a corrupção generalizada faz com que a polícia aceite propinas (“arregos” na gíria própria da marginalidade) e deixe a situação se agravar ao ponto em que chegamos, ao nível de organização de um exército infiltrado entre nossa gente. O que vemos em São Paulo é o sonho de guerrilha da esquerda dos anos 60 e 70, agora realizado não por ideologia, mas como mostra de poder do crime. Estamos virando uma Colômbia, e como resistir?
Não basta a polícia, não basta intervenção Federal, tropa de elite ou exército nas ruas como um estado de sítio. Precisamos de um serviço de inteligência (como o foi o SNI, ou seria não fosse pela corrupção e a natureza de repressão ideológica), para se infiltrar, colher os dados logísticos que permitiriam ações rápidas e precisas antes de ocorrerem os problemas. Desbaratar o crime organizado de dentro para fora, desarticulá-lo, identificar os verdadeiros líderes, menos fáceis de serem substituídos, e decapitar a organização com suas prisões e isolamento. Para tal teríamos que contar também com um sistema penitenciário realmente eficaz, com prisões federais em locais afastados para onde seriam transferidos os condenados de maior periculosidade.
Um dia talvez isso tudo se torne realidade, tolerância zero contra o crime. Mas por enquanto, vamos continuar assistindo o poder público entrando em acordo com os criminosos, tendo a sociedade como refém dessa guerra civil absurda. É o reconhecimento do Estado de que há um outro poder, com o qual temos de conviver e tolerar, dialogar e abaixar a cabeça. E agradecer a Deus por sairmos vivos.
5/06/2006
Greve de Fome
Tenho saudades da época em que as manifestações de martírio pessoal almejavam fins dignos e altruístas... Como Gandhi, que atravessou a Índia a pé até a costa, para retirar o sal do mar em protesto pacífico contra as imposições mercantis da Inglaterra. Como o estudante na praça da paz celestial contra os blindados. Como Jesus, humilhado e flagelado para salvar nossas almas.
Hoje? Vemos a ridícula greve de fome do Garotinho, buscando espaço na mídia para defender a própria candidatura, com um discurso paranóide de conspirações envolvendo o presidente Lula, as organizações Globo, membros do próprio PMDB, extraterrestres infiltrados, e sabe-se lá o que mais. Parece que já perdeu 4 ou 5 kilos, o que faz muito bem, afinal apresentava-se obeso, e bem precisava de uma dieta.
Nesses dias só teve vantagens: perdeu peso, teve um destaque na mídia que nunca iria conseguir de outro modo, irá até melhorar suas taxas de colesterol... melhor que qualquer SPA. Se o Garotinho queria chamar atenção, conseguiu. Mas não me comove vê-lo emagrecendo, tantas mulheres fazem o mesmo sem aparecer no jornal. Queria vê-lo fazer o inverso, comer sem parar, doces, chocolate, churrasco, massas, a Rosinha, enfim, tudo o que faz mal à saúde. Com sorte iria infartar e aparecer nos jornais pela última vez.
Porque não fazem greve de fome contra o aumento do preço do combustível, o desemprego, a falta de estrutura do sistema público de saúde, as crianças nas ruas, a violência no Rio, os spam e correntes na internet? Algo em benefício dos outros, ou de todos nós. Cansei dos políticos, sempre defendendo interesses próprios. E espero não ser o único.
Hoje? Vemos a ridícula greve de fome do Garotinho, buscando espaço na mídia para defender a própria candidatura, com um discurso paranóide de conspirações envolvendo o presidente Lula, as organizações Globo, membros do próprio PMDB, extraterrestres infiltrados, e sabe-se lá o que mais. Parece que já perdeu 4 ou 5 kilos, o que faz muito bem, afinal apresentava-se obeso, e bem precisava de uma dieta.
Nesses dias só teve vantagens: perdeu peso, teve um destaque na mídia que nunca iria conseguir de outro modo, irá até melhorar suas taxas de colesterol... melhor que qualquer SPA. Se o Garotinho queria chamar atenção, conseguiu. Mas não me comove vê-lo emagrecendo, tantas mulheres fazem o mesmo sem aparecer no jornal. Queria vê-lo fazer o inverso, comer sem parar, doces, chocolate, churrasco, massas, a Rosinha, enfim, tudo o que faz mal à saúde. Com sorte iria infartar e aparecer nos jornais pela última vez.
Porque não fazem greve de fome contra o aumento do preço do combustível, o desemprego, a falta de estrutura do sistema público de saúde, as crianças nas ruas, a violência no Rio, os spam e correntes na internet? Algo em benefício dos outros, ou de todos nós. Cansei dos políticos, sempre defendendo interesses próprios. E espero não ser o único.
5/02/2006
A Terra das Sensações Esquecidas
Às vezes fecho os olhos, recordo seus sons:
Vento soprando suave, as ondas quebrando
Até mesmo o apito da barca chegando
Nosso riso inocente de tempos tão bons...
Quase chego a ouvir as árvores mexendo
Os cascos dos cavalos na terra vermelha
Gotas grossas de chuva batendo na telhas...
Esses ruídos são silêncio, eu entendo.
Inspiro e meu olfato surpreende a memória
Com odores da infância, quando fui feliz:
Terra molhada impregnando meu nariz,
Damas-da Noite gritam uma velha história...
Minhas narinas captam o cheiro do mar
O cheiro de guardado das roupas de cama
Um cachimbo, a poeira do ar, café, grama
E o perfume de alguém que desprendi a amar
Sinto de novo a areia sob meus pés feridos
O sal secando em meu corpo, aquela brisa
Fresca, o mar morno, a mão macia que me alisa
E a dormência completa de todos sentidos
De repente é só esse calor repentino
Que torna à pele sentimentos represados
Tão bem guardados n' Arca dos Verões Passados
Perdidos nos caminhos do nosso Destino.
Vento soprando suave, as ondas quebrando
Até mesmo o apito da barca chegando
Nosso riso inocente de tempos tão bons...
Quase chego a ouvir as árvores mexendo
Os cascos dos cavalos na terra vermelha
Gotas grossas de chuva batendo na telhas...
Esses ruídos são silêncio, eu entendo.
Inspiro e meu olfato surpreende a memória
Com odores da infância, quando fui feliz:
Terra molhada impregnando meu nariz,
Damas-da Noite gritam uma velha história...
Minhas narinas captam o cheiro do mar
O cheiro de guardado das roupas de cama
Um cachimbo, a poeira do ar, café, grama
E o perfume de alguém que desprendi a amar
Sinto de novo a areia sob meus pés feridos
O sal secando em meu corpo, aquela brisa
Fresca, o mar morno, a mão macia que me alisa
E a dormência completa de todos sentidos
De repente é só esse calor repentino
Que torna à pele sentimentos represados
Tão bem guardados n' Arca dos Verões Passados
Perdidos nos caminhos do nosso Destino.
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