Outro dia vi o Lula na televisão dizendo que tem “ojeriza a pacote”. Lembrei da época em que mal um ministro da fazenda assumia o cargo, vinha a expectativa do novo “pacote” econômico.
Era uma época de instabilidade econômica, inflação galopante, não havia expectativa a longo prazo, precisávamos de soluções imediatas, qualquer conjunto de medidas desesperadas para tentar dar valor real à moeda. E as medidas - surpresa!- eram sempre as mesmas. Corta zero, muda o nome da moeda, congela os preços, somem as mercadorias das prateleiras e lá vamos nós para a fila da carne. Ou o dinheiro não valia nada ou valia, mas não conseguíamos encontrar o que comprar. “Pacote” trazia implícito dois conceitos: para uns, podia ser a esperança de controle a curto prazo; para outros, mais realistas, era o que sempre foi: mais do mesmo.
Nunca bastaram, os “pacotes”. Era preciso um “plano”, uma idéia a longo prazo para estabilizar a economia. Um plano envolvia o que sempre faltou aos brasileiros, logística, preparação, pensamento a longo prazo. Uma vez com um “plano” na cabeça, o Brasil poderia finalmente ingressar no futuro, e buscar a forma correta de governar, não com “pacotes” com prazo de validade e pouca criatividade, nem um “plano”, limitado e específico para um único problema. Mas sim com programas: programa social, programa econômico, programa de governo. Envolvendo cronogramas, estratégia a longo prazo, metas.
O “Plano Real” deu ao brasileiro a sonhada estabilidade econômica, a credibilidade, a chance de um novo impulso à economia. Infelizmente, o criador do “plano” teve sucesso apenas em manter o plano, e faltou talvez firmeza para seguir, nos seus 8 anos de governo, com a parte definitiva, a instauração dos programas necessários ao desenvolvimento. Uma forma mais discreta de governar, porém mais estável e eficiente. Seu sucessor, o próprio Lula, resolveu seguir pela linha não trilhada pelo FHC.
Os programas sociais foram aproveitados e postos para funcionar de forma adequada. O bolsa-família, e isso é incontestável, foi a maior conquista desse governo, e sua principal bandeira. Um programa de verdade, não mero assistencialismo como julgam os detratores, visto que tem como fundamento manter as crianças –nosso futuro- na escola. Uma solução de curto prazo, dando apoio financeiro aos brasileiros que viviam abaixo da linha de miséria, associado a uma solução de médio e longo prazo, dando oportunidade de instrução às crianças. A idéia não foi original, mas foi muito bem executada e ampliada pelo governo Lula. Mas não é o bastante, precisamos aproveitar o bom panorama econômico internacional para impulsionar o crescimento. E como a época é favorável aos “programas”, surge esse obscuro “programa de aceleração do crescimento”, que foi bem divulgado –apesar de pouco explicado- com a simpática sigla PAC.
Acho que o presidente gostou da sonoridade do “PAC”. Agora todos os “programas” viraram PAC’s. Já ouvi falar em PAC da saúde, PAC da educação, PAC do Funasa, PAC isso e PAC aquilo. Foi introduzida na retórica política uma nova palavra, e parece que o significado está se perdendo com o abuso de seu emprego, como ocorre com todos os vocábulos ao longo de sua história etimológica. Atualmente qualquer conjunto de medidas para combater ou amenizar problemas específicos, é chamado de “PAC” para tal setor.
É impressão minha, ou a cada dia “PAC” se parece mais com abreviação de “PACote”???
2 comentários:
Hum...gostei do texto...só não concordo com o caso da bolsa família...se torna assistencialismo e politicagem no momento que escutamos o povo falar que vai votar pq recebe o dinheiro..bom essa é a minha opinião...mas adorei teu blog!
beijos
Quer saber? Nem pacote. Não quer dizer nada.
Direto para 2008!
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