2/11/2008

Essa Ofegante Epidemia

Estou voltando do descanso de carnaval. Agora posso atualizar o blog, e não posso deixar de falar do Carnaval. Perdoem-me aqueles teóricos que odeiam o carnaval, que desvia a atenção do que é importante para o país, das falcatruas dos governantes, das tragédias das barreiras que caem, das enchentes e da falta de estrutura, do triste cotidiano das crianças que cheiram cola, da falta de escola, et caetera (=espaço para listarem mais quinhentas tragédias diárias).

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Tudo bem, eu já reclamei nesse mesmo espaço do excesso de feriados, que prejudicam a economia do país. Queixava-me da criação de novos feriados, como o “Dia da Consciência Negra”. Não se aplica ao Carnaval, tradicional feriado no mundo ocidental trazido ao Brasil pelos colonizadores portugueses com o nome de Entrudo. E que movimenta a economia, com grande afluxo de turistas do mundo todo.
Além disso, o Carnaval é uma imensa manifestação cultural popular e uma grande catarse coletiva. Mesmo os que não gostam de brincar, podem aproveitar o momento para descansar e esquecer um pouco os problemas, aproveitando essa “alegria fugaz”. Para se preocupar com as contas e impostos, para se indignar com a política e a violência, os brasileiros já temos os outros 360 dias do ano. Essa é a época do ano para expressar a alegria de viver, aproveitar o que temos de melhor na nossa cultura, com a expressão popular na música, nas fantasias, performances e naquela mistura de um pouco de tudo isso que são os desfiles das Escolas de Samba. Os desfiles são uma forma de arte composta, que consegue misturar escultura, música, drama, poesia, pintura e dança.
Como o assunto chegou aos desfiles, vamos à polêmica de 2008, a Viradouro. Como já está virando hábito no carnaval, a justiça interferiu no desfile proibindo a apresentação do carro alegórico que representava o Holocausto. Diversas vezes a justiça já foi usada para proibir a apresentação de assuntos polêmicos, na maioria das vezes ao abordar religião ou para controlar a sensualidade na avenida. Quem pode esquecer o Cristo em farrapos, no “Luxo do Lixo” de Joãozinho Trinta? Censura no carnaval parece um resquício de ditadura.
Mas vocês viram o carro em questão nessa polêmica em particular? Muito realista, uma verdadeira obra de arte. No entanto, imaginar aquela tragédia no meio de foliões animados, pulando e cantando com alegria (como todo carnaval deve ser), realmente me pareceu de um mau gosto incrível. Talvez pela própria crueza realística da obra. Não acho que o carro devesse entrar na avenida mesmo. Tragédias não combinam com o Carnaval! Não vejo como um alerta, mas como um desrespeito ao drama de milhões de vidas perdidas. Respeitaria e defenderia uma imensa ala de nazistas com suásticas de purpurina e tapa-sexo imitando o bigodinho de Hitler, mas cadáveres desnutridos não me parecem tema de carnaval.
Vejam bem, sou contra toda e qualquer forma de censura. Não falei que aprovei a censura ao carro da Viradouro, apenas acredito que o carro não devia entrar na avenida. O próprio carnavalesco poderia ter dado ouvidos à Federação Israelita e atendido ao pedido simples de não usar a alegoria. Imaginem um carro com o Senna arrebentado no chão, o capacete amarelo tinto de sangue, e restos do carro servindo de base para o samba das destaques Adriane Galisteu e Xuxa, vestindo só um tapa-sexo preto e um véu de filó negro, a fantasia “Viuvinhas Deslumbrantes”; ou um carro alegórico com uma criança sendo arrastada atrás, enquanto cinco destaques com a fantasia “Bandidos do Rio com plumas e paetês” sambam alegremente. Não aticem minha imaginação, posso criar mais alegorias cruéis...
Por outro lado, a moça que desfilou fantasiada de índia com o menor tapa-sexo do mundo, com míseros 3,5 cm perdidos como uma ilha no mar de carne que o cercava, levou sua escola a ser punida com a perda de meio ponto. Defensora da moral e bons costumes no Carnaval, a própria Liga das Escolas de Samba se incumbiu de agir como censora nesse caso, dispensando a justiça. Que poderia autuar a moça por atentado ao pudor. Pudor no Carnaval???
Carnaval é a festa de orgia e excessos, de gula, luxúria e vaidade, que teoricamente antecederiam o período de 40 dias em contrição que precedem a Semana Santa. É um período para pecado e fantasia, para alegria, para a expressão da arte popular, para a “ala dos barões famintos/ O bloco dos napoleões retintos/ E os pigmeus do bulevar”. Toda forma de arte deve ser respeitada, mas bem que os carnavalescos poderiam ter mais bom-senso. Nada de censura, mas um pouco de responsabilidade não custa nada. Deixemos os dramas para o dia-a-dia, o Carnaval é para ter prazer. Deixo aqui meu protesto de folião: abaixo os cadáveres e vilipêndios, no carnaval queremos é tapas-sexo menores!

2 comentários:

Letícia Losekann Coelho disse...

Posso te contar um segredo, eu sou uma das que odeia carnaval...e nem assisti na televisão! Mas depois todos noticiaram o micro mini tapa sexo de sei lá quem...achei engraçado!
beijos

shirlei horta disse...

Fabrííííííício!!!!!!!!!!!!!

Eu tô louca correndo atrás de você!! Reformatando o blog, seu endereço sumiu e vai achar! Se soubesse que a Tita tem, tinha pedido pra ela.

Vou trabalhar agora, vou ficar fora o dia inteiro, aí volto para ler com calma seu blog. Que já está linkado lá em casa de novo.

Beijos! Saudades!