Está se discutindo agora a reforma tributária. Muito importante, desde que seja para tornar mais justa a carga de impostos que incidem sobre cada cidadão. Mas acredito que a reforma tem que ser mais ampla. Tratemos de imaginar a reforma do Brasil como se este fosse uma casa: não adianta pintar a sala, se a infiltração vem do banheiro.
Sei que ninguém pediu minha opinião, mas tenho uma visão muito clara - sobre o imposto de renda pelo menos. Que quem ganha mais deve pagar mais é quase um consenso. No entanto, para quem ganha uma “fortuna” de R$3.000,00 por mês, pagar 27,5% de IR é um achaque. Compromete a renda, e quem ganha 8-10 salários por mês não é rico. É a pobre classe média, que tem que pagar ainda IPTU, IPVA, água, luz (com aquela “contribuição para iluminação pública”... será que se referem às favelas?), escola para os filhos, plano de saúde... porque o imposto pago não lhe dá direito à saúde e educação decentes. Então, o IR deveria ter uma estratificação melhor. Por exemplo: até 5 salários, isento; de 5-10 salários, 5%; 10-20 salários, 10%. Acima de 20 salários, uma alíquota maior. Mas nunca o absurdo de se trabalhar 3 meses só para pagar IR.
Vocês devem estar pensando que seria inviável uma redução dessas. Ora, inviável é quem ganha 6 salários/mês ter que pagar 27,5%. Isso leva à sonegação (no meu caso, com IR retido na fonte, isso é impossível, OK?). Com alíquotas mais compatíveis ao ganho mensal, e uma melhor fiscalização, teríamos uma redução dessa sonegação. Talvez conseguíssemos uma redução maior ainda se as pessoas tivessem confiança de que seu dinheiro suado, pago ao governo com muito sacrifício, fosse ter um bom emprego, ao invés de servir para pagar aluguel de carro e conta de restaurante dos políticos. E isso leva à segunda parte da reforma geral nessa casa, tentando tornar o Brasil habitável.
É urgente um controle dos gastos públicos, e uma maior transparência e fiscalização desses casos, bem como punição para o mau uso do dinheiro público. É engraçado ver na televisão que quem sonega (não querendo dar seu dinheiro ao governo) deve ser preso, enquanto os políticos que se apropriam desse mesmo dinheiro, quando são pegos, permanecem impunes. Pior, nosso Presidente ainda minimiza o fato. Segundo ele no discurso da posse do novo ministro da integração racial, a ex-ministra Matilde Ribeiro cometeu uma “falha administrativa”, não um crime. Agora se eu não declarar direitinho o quanto eu ganho, e pagar cada centavo, sou um criminoso. Vai entender o Presidente...
Situação semelhante é a das ONG´s. Lula não quer quebrar o sigilo bancário destas, mas o nosso sigilo bancário bem que ele queria, para “evitar sonegação”. O que eu entendo é que o Lula é pai dos pobres, amigo dos banqueiros, e carrasco da classe média. A CPI das ONG’s, que obviamente acabará em pizza, poderia servir para fechar um imenso ralo de dinheiro público. Afinal, por que o governo tem que financiar uma organização não-governamental???
Tornar a cobrança de impostos mais justa com uma maior estratificação poderia resultar em uma queda na arrecadação, mas com uma fiscalização melhor talvez essa queda não fosse tão grande. Mas com certeza um controle dos gastos e combate às fraudes cobriria a diferença fácil, fácil. Mas, quer saber? A quem isso interessa, além de nós, a classe média? Os políticos querem mais é continuar com a gastança. Os mega-empresários têm lá seus truques, contas nos paraísos fiscais, et caetera. E os pobres vão continuar aplaudindo o governo enquanto receberem o bolsa-família.
E lá vamos nós, com nossa idéia brasileira de reformar a casa jogando mais concreto sobre a laje para acabar com as goteiras e tapando as rachaduras da parede com argamassa. E torcer para a estrutura agüentar mais um pouco. Tomara que o céu continue limpo assim...
Se todo o universo pode ser uma Casca de Noz Imagine a força de uma Tempestade em um Copo d´Água. ... Um pequeno espaço para que eu possa falar sobre todas as coisas.
2/28/2008
2/19/2008
Salvem os Lutadores de Jiu-Jitsu!
O Lutador de jiu-jitsu Rafael Souza Braga morreu ao “surfar” no teto de um ônibus, após o Show da Cláudia Leite em Copacabana. Eu ouvi no rádio que pretendem indiciar o motorista por homicídio culposo, pois a responsabilidade pela segurança dos passageiros é do motorista, que deve impedir os passageiros de viajarem com partes do corpo para fora do veículo.
Eu fui ao show. Na volta, quando estava indo buscar o carro no estacionamento do Rio Sul, o que vi foi um festival de ônibus lotados, com os jovens passageiros (na maioria alcoolizados) fazendo algazarra e viajando com o corpo para fora das janelas e pendurados nas portas. Vimos também duas mulheres no teto de um ônibus. Motoqueiros sem capacete faziam suas graças com escapamento barulhento. Para piorar o clima de fim-do-mundo, o Flamengo havia ganhado do Vasco na semifinal, e havia muita provocação de torcidas. Ou seja, o evento foi muito além do que eu esperava para um show gratuito do genérico da Ivete.
Agora fiquei imaginando, coitado do motorista. Seria uma tarefa fácil controlar os passageiros no cenário que eu descrevi? E, mesmo que o motorista tivesse tido essa preocupação, como retirar um gentil lutador de jiu-jitsu alcoolizado do teto de um ônibus? Um homem de 21 anos deve ser responsável por seus atos, e saber muito bem os riscos de “surfar” em um ônibus. Deveríamos considerar homicídio culposo ou suicídio?
Esse caso me lembrou o do outro lutador de jiu-jitsu, Ryan Gracie. Aquele que fumou maconha e cheirou sei lá quantas carreiras de cocaína, roubou um carro durante um surto psicótico com idéias deliróides de cunho persecutório, e só foi detido após a reação do moto boy que não o deixou roubar sua moto. Foi preso, medicado por um psiquiatra na prisão, e foi encontrado morto na cela. Imediatamente se identificou a culpa do psiquiatra. Tudo bem, concordo que foi irresponsabilidade do psiquiatra medicar na prisão ao invés de solicitar internação hospitalar sob custódia. Mas o que matou Ryan, a quantidade de drogas ilícitas consumidas ou a medicação para combater os efeitos dessas drogas? Ainda estou esperando o laudo oficial do IML, mas a opinião publica já condenou o médico há tempos.
O que se assemelha em ambos os casos é que os dois lutadores falecidos parecem ser isentos de responsabilidade. No primeiro caso, o motorista é que devia ter tomado conta do passageiro (maior de idade). No segundo caso, o advogado já falou que ele não tinha nem intenção de roubar, estava era fugindo de perseguidores imaginários durante o surto induzido pelas drogas. Era um pobre dependente químico fora de seu juízo perfeito.
Ora, vamos simplificar as coisas, declarem logo os lutadores de jiu-jitsu como incapazes, necessitando de tutela dos pais ou do estado. Assim vamos nos prevenir de novas tragédias como essas. Levando em conta a aparente tendência dessa espécie de vida primitiva em se meter em situações de risco, se medidas urgentes não forem tomadas, logo entrarão em extinção.
Eu fui ao show. Na volta, quando estava indo buscar o carro no estacionamento do Rio Sul, o que vi foi um festival de ônibus lotados, com os jovens passageiros (na maioria alcoolizados) fazendo algazarra e viajando com o corpo para fora das janelas e pendurados nas portas. Vimos também duas mulheres no teto de um ônibus. Motoqueiros sem capacete faziam suas graças com escapamento barulhento. Para piorar o clima de fim-do-mundo, o Flamengo havia ganhado do Vasco na semifinal, e havia muita provocação de torcidas. Ou seja, o evento foi muito além do que eu esperava para um show gratuito do genérico da Ivete.
Agora fiquei imaginando, coitado do motorista. Seria uma tarefa fácil controlar os passageiros no cenário que eu descrevi? E, mesmo que o motorista tivesse tido essa preocupação, como retirar um gentil lutador de jiu-jitsu alcoolizado do teto de um ônibus? Um homem de 21 anos deve ser responsável por seus atos, e saber muito bem os riscos de “surfar” em um ônibus. Deveríamos considerar homicídio culposo ou suicídio?
Esse caso me lembrou o do outro lutador de jiu-jitsu, Ryan Gracie. Aquele que fumou maconha e cheirou sei lá quantas carreiras de cocaína, roubou um carro durante um surto psicótico com idéias deliróides de cunho persecutório, e só foi detido após a reação do moto boy que não o deixou roubar sua moto. Foi preso, medicado por um psiquiatra na prisão, e foi encontrado morto na cela. Imediatamente se identificou a culpa do psiquiatra. Tudo bem, concordo que foi irresponsabilidade do psiquiatra medicar na prisão ao invés de solicitar internação hospitalar sob custódia. Mas o que matou Ryan, a quantidade de drogas ilícitas consumidas ou a medicação para combater os efeitos dessas drogas? Ainda estou esperando o laudo oficial do IML, mas a opinião publica já condenou o médico há tempos.
O que se assemelha em ambos os casos é que os dois lutadores falecidos parecem ser isentos de responsabilidade. No primeiro caso, o motorista é que devia ter tomado conta do passageiro (maior de idade). No segundo caso, o advogado já falou que ele não tinha nem intenção de roubar, estava era fugindo de perseguidores imaginários durante o surto induzido pelas drogas. Era um pobre dependente químico fora de seu juízo perfeito.
Ora, vamos simplificar as coisas, declarem logo os lutadores de jiu-jitsu como incapazes, necessitando de tutela dos pais ou do estado. Assim vamos nos prevenir de novas tragédias como essas. Levando em conta a aparente tendência dessa espécie de vida primitiva em se meter em situações de risco, se medidas urgentes não forem tomadas, logo entrarão em extinção.
2/17/2008
Ajustem seus relógios...
Acabou o horário de verão. Pelo menos não vou mais ter que ficar escutando aquelas pessoas que vivem reclamando que perderam uma hora, que esse horário de verão é horrível, que o dia ficou mais curto.
Gente, o horário de verão tira uma hora da madrugada de sábado, e a maioria das pessoas não trabalha domingo. Pode acordar mais tarde e se adaptar melhor. As pessoas que têm mais dificuldade de se adaptar levam no máximo uma semana para se ajustar biologicamente ao novo horário. Reclamar do horário de verão não faz sentido.
Tudo bem, quem acorda cedo sai à rua no escuro ainda. Mas não compensa chegar em casa com o dia claro? Economizamos na luz, basta deixar as janelas abertas e jantar com o dia ainda claro. E em tempos de escassez de energia, isso vale muito.
Mas acabou o horário de verão, não vou mais ouvir as pessoas reclamando da hora perdida – devolvida intacta. Só vou sentir falta de chegar em casa com o sol brilhando. Ah, isso eu vou.
Gente, o horário de verão tira uma hora da madrugada de sábado, e a maioria das pessoas não trabalha domingo. Pode acordar mais tarde e se adaptar melhor. As pessoas que têm mais dificuldade de se adaptar levam no máximo uma semana para se ajustar biologicamente ao novo horário. Reclamar do horário de verão não faz sentido.
Tudo bem, quem acorda cedo sai à rua no escuro ainda. Mas não compensa chegar em casa com o dia claro? Economizamos na luz, basta deixar as janelas abertas e jantar com o dia ainda claro. E em tempos de escassez de energia, isso vale muito.
Mas acabou o horário de verão, não vou mais ouvir as pessoas reclamando da hora perdida – devolvida intacta. Só vou sentir falta de chegar em casa com o sol brilhando. Ah, isso eu vou.
2/11/2008
Essa Ofegante Epidemia
Estou voltando do descanso de carnaval. Agora posso atualizar o blog, e não posso deixar de falar do Carnaval. Perdoem-me aqueles teóricos que odeiam o carnaval, que desvia a atenção do que é importante para o país, das falcatruas dos governantes, das tragédias das barreiras que caem, das enchentes e da falta de estrutura, do triste cotidiano das crianças que cheiram cola, da falta de escola, et caetera (=espaço para listarem mais quinhentas tragédias diárias).
...
Tudo bem, eu já reclamei nesse mesmo espaço do excesso de feriados, que prejudicam a economia do país. Queixava-me da criação de novos feriados, como o “Dia da Consciência Negra”. Não se aplica ao Carnaval, tradicional feriado no mundo ocidental trazido ao Brasil pelos colonizadores portugueses com o nome de Entrudo. E que movimenta a economia, com grande afluxo de turistas do mundo todo.
Além disso, o Carnaval é uma imensa manifestação cultural popular e uma grande catarse coletiva. Mesmo os que não gostam de brincar, podem aproveitar o momento para descansar e esquecer um pouco os problemas, aproveitando essa “alegria fugaz”. Para se preocupar com as contas e impostos, para se indignar com a política e a violência, os brasileiros já temos os outros 360 dias do ano. Essa é a época do ano para expressar a alegria de viver, aproveitar o que temos de melhor na nossa cultura, com a expressão popular na música, nas fantasias, performances e naquela mistura de um pouco de tudo isso que são os desfiles das Escolas de Samba. Os desfiles são uma forma de arte composta, que consegue misturar escultura, música, drama, poesia, pintura e dança.
Como o assunto chegou aos desfiles, vamos à polêmica de 2008, a Viradouro. Como já está virando hábito no carnaval, a justiça interferiu no desfile proibindo a apresentação do carro alegórico que representava o Holocausto. Diversas vezes a justiça já foi usada para proibir a apresentação de assuntos polêmicos, na maioria das vezes ao abordar religião ou para controlar a sensualidade na avenida. Quem pode esquecer o Cristo em farrapos, no “Luxo do Lixo” de Joãozinho Trinta? Censura no carnaval parece um resquício de ditadura.
Mas vocês viram o carro em questão nessa polêmica em particular? Muito realista, uma verdadeira obra de arte. No entanto, imaginar aquela tragédia no meio de foliões animados, pulando e cantando com alegria (como todo carnaval deve ser), realmente me pareceu de um mau gosto incrível. Talvez pela própria crueza realística da obra. Não acho que o carro devesse entrar na avenida mesmo. Tragédias não combinam com o Carnaval! Não vejo como um alerta, mas como um desrespeito ao drama de milhões de vidas perdidas. Respeitaria e defenderia uma imensa ala de nazistas com suásticas de purpurina e tapa-sexo imitando o bigodinho de Hitler, mas cadáveres desnutridos não me parecem tema de carnaval.
Vejam bem, sou contra toda e qualquer forma de censura. Não falei que aprovei a censura ao carro da Viradouro, apenas acredito que o carro não devia entrar na avenida. O próprio carnavalesco poderia ter dado ouvidos à Federação Israelita e atendido ao pedido simples de não usar a alegoria. Imaginem um carro com o Senna arrebentado no chão, o capacete amarelo tinto de sangue, e restos do carro servindo de base para o samba das destaques Adriane Galisteu e Xuxa, vestindo só um tapa-sexo preto e um véu de filó negro, a fantasia “Viuvinhas Deslumbrantes”; ou um carro alegórico com uma criança sendo arrastada atrás, enquanto cinco destaques com a fantasia “Bandidos do Rio com plumas e paetês” sambam alegremente. Não aticem minha imaginação, posso criar mais alegorias cruéis...
Por outro lado, a moça que desfilou fantasiada de índia com o menor tapa-sexo do mundo, com míseros 3,5 cm perdidos como uma ilha no mar de carne que o cercava, levou sua escola a ser punida com a perda de meio ponto. Defensora da moral e bons costumes no Carnaval, a própria Liga das Escolas de Samba se incumbiu de agir como censora nesse caso, dispensando a justiça. Que poderia autuar a moça por atentado ao pudor. Pudor no Carnaval???
Carnaval é a festa de orgia e excessos, de gula, luxúria e vaidade, que teoricamente antecederiam o período de 40 dias em contrição que precedem a Semana Santa. É um período para pecado e fantasia, para alegria, para a expressão da arte popular, para a “ala dos barões famintos/ O bloco dos napoleões retintos/ E os pigmeus do bulevar”. Toda forma de arte deve ser respeitada, mas bem que os carnavalescos poderiam ter mais bom-senso. Nada de censura, mas um pouco de responsabilidade não custa nada. Deixemos os dramas para o dia-a-dia, o Carnaval é para ter prazer. Deixo aqui meu protesto de folião: abaixo os cadáveres e vilipêndios, no carnaval queremos é tapas-sexo menores!
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Tudo bem, eu já reclamei nesse mesmo espaço do excesso de feriados, que prejudicam a economia do país. Queixava-me da criação de novos feriados, como o “Dia da Consciência Negra”. Não se aplica ao Carnaval, tradicional feriado no mundo ocidental trazido ao Brasil pelos colonizadores portugueses com o nome de Entrudo. E que movimenta a economia, com grande afluxo de turistas do mundo todo.
Além disso, o Carnaval é uma imensa manifestação cultural popular e uma grande catarse coletiva. Mesmo os que não gostam de brincar, podem aproveitar o momento para descansar e esquecer um pouco os problemas, aproveitando essa “alegria fugaz”. Para se preocupar com as contas e impostos, para se indignar com a política e a violência, os brasileiros já temos os outros 360 dias do ano. Essa é a época do ano para expressar a alegria de viver, aproveitar o que temos de melhor na nossa cultura, com a expressão popular na música, nas fantasias, performances e naquela mistura de um pouco de tudo isso que são os desfiles das Escolas de Samba. Os desfiles são uma forma de arte composta, que consegue misturar escultura, música, drama, poesia, pintura e dança.
Como o assunto chegou aos desfiles, vamos à polêmica de 2008, a Viradouro. Como já está virando hábito no carnaval, a justiça interferiu no desfile proibindo a apresentação do carro alegórico que representava o Holocausto. Diversas vezes a justiça já foi usada para proibir a apresentação de assuntos polêmicos, na maioria das vezes ao abordar religião ou para controlar a sensualidade na avenida. Quem pode esquecer o Cristo em farrapos, no “Luxo do Lixo” de Joãozinho Trinta? Censura no carnaval parece um resquício de ditadura.
Mas vocês viram o carro em questão nessa polêmica em particular? Muito realista, uma verdadeira obra de arte. No entanto, imaginar aquela tragédia no meio de foliões animados, pulando e cantando com alegria (como todo carnaval deve ser), realmente me pareceu de um mau gosto incrível. Talvez pela própria crueza realística da obra. Não acho que o carro devesse entrar na avenida mesmo. Tragédias não combinam com o Carnaval! Não vejo como um alerta, mas como um desrespeito ao drama de milhões de vidas perdidas. Respeitaria e defenderia uma imensa ala de nazistas com suásticas de purpurina e tapa-sexo imitando o bigodinho de Hitler, mas cadáveres desnutridos não me parecem tema de carnaval.
Vejam bem, sou contra toda e qualquer forma de censura. Não falei que aprovei a censura ao carro da Viradouro, apenas acredito que o carro não devia entrar na avenida. O próprio carnavalesco poderia ter dado ouvidos à Federação Israelita e atendido ao pedido simples de não usar a alegoria. Imaginem um carro com o Senna arrebentado no chão, o capacete amarelo tinto de sangue, e restos do carro servindo de base para o samba das destaques Adriane Galisteu e Xuxa, vestindo só um tapa-sexo preto e um véu de filó negro, a fantasia “Viuvinhas Deslumbrantes”; ou um carro alegórico com uma criança sendo arrastada atrás, enquanto cinco destaques com a fantasia “Bandidos do Rio com plumas e paetês” sambam alegremente. Não aticem minha imaginação, posso criar mais alegorias cruéis...
Por outro lado, a moça que desfilou fantasiada de índia com o menor tapa-sexo do mundo, com míseros 3,5 cm perdidos como uma ilha no mar de carne que o cercava, levou sua escola a ser punida com a perda de meio ponto. Defensora da moral e bons costumes no Carnaval, a própria Liga das Escolas de Samba se incumbiu de agir como censora nesse caso, dispensando a justiça. Que poderia autuar a moça por atentado ao pudor. Pudor no Carnaval???
Carnaval é a festa de orgia e excessos, de gula, luxúria e vaidade, que teoricamente antecederiam o período de 40 dias em contrição que precedem a Semana Santa. É um período para pecado e fantasia, para alegria, para a expressão da arte popular, para a “ala dos barões famintos/ O bloco dos napoleões retintos/ E os pigmeus do bulevar”. Toda forma de arte deve ser respeitada, mas bem que os carnavalescos poderiam ter mais bom-senso. Nada de censura, mas um pouco de responsabilidade não custa nada. Deixemos os dramas para o dia-a-dia, o Carnaval é para ter prazer. Deixo aqui meu protesto de folião: abaixo os cadáveres e vilipêndios, no carnaval queremos é tapas-sexo menores!
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